Romantismo: características, contexto histórico e autores

Rebeca Fuks
Rebeca Fuks
Doutora em Estudos da Cultura
Tempo de leitura: 9 min.

Durante o século XIX vigorou o Romantismo, uma escola artística que se opunha ao classicismo e nasceu originalmente nos países europeus vindo a se espalhar posteriormente em terras para além do Atlântico.

O Romantismo foi um movimento artístico que deixou as suas marcas na poesia, no romance e no teatro. No Brasil é possível observar a presença de características românticas já no final do século XVIII.

Características do Romantismo

O Romantismo adquiriu características bastante distintas em cada país, por isso é difícil generalizar o comportamento de autores imersos em universos tão diferentes. O Romantismo português, por exemplo, carrega contornos muito peculiares se comparado ao Romantismo inglês.

Essa variação se dá não apenas por questões espaciais (devido aos diferentes contextos dos diversos países), como também em relação as questões temporais. Por ter durado relativamente bastante tempo, a primeira geração de autores românticos possui uma abordagem específica e diversa se comparada aos autores das gerações posteriores.

De toda forma, procuramos aqui sistematizar algumas daquelas que parecem ser as características centrais norteadoras do Romantismo

Sobre o emissor da mensagem

O fulcro da visão romântica do mundo é o sujeito, há um protagonismo total do emissor da mensagem.

Perdido diante das rápidas mudanças sociais ocorridas, o ser romântico vê-se incapaz de resolver os conflitos com o meio e recorre à evasão temporal e espacial. Em termos temporais, ele retorna para a Idade Média gótica e em termos espaciais se refugia em paisagens desertas ou no Oriente exótico.

A importância da noite

A escrita romântica prefere a noite ao dia pois durante esse período é mais fácil aceder ao inconsciente e ao sonho. Aspira-se uma liberdade expressiva.

A valorização da cultura local

Nota-se no Romantismo uma vertente patriota, um culto à língua nativa e ao folclore. O italiano Guiseppe Mazzini classificou o próprio século como a "hora do advento das nações".

O ideal romântico

Há, via de regra, uma idealização da mulher amada, tida quase como um objeto de desejo perfeito e inatingível.

O formato da escrita

Com o fim do Realismo caiu a influência da mitologia grega e também das ficções clássicas. A epopeia, que já parecia estar em crise no século XVIII, é substituída pelo poema político e pelo romance histórico.

No teatro, as diferenças são ainda mais gritantes: a dualidade simplista entre a tragédia e a comédia dá lugar a criação do drama, que é capaz de fundir o sublime e o grotesco.

Contexto histórico do Romantismo

O período histórico que proporcionou o surgimento do romantismo encontrava-se em plena ebulição.

Em 1760 eclodia a Revolução Industrial, a primeira fase viria a durar até 1860, inicialmente na Inglaterra, e acabaria por mudar drasticamente a forma de produção nas fábricas.

Em 1789 estourava a Revolução Francesa com a população a clamar os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade.

Nos países europeus considerados mais desenvolvidos - França e Inglaterra - vigorava um período de profunda mudança social e política. Segundo Karl Mannheim, o Romantismo:

"expressa os sentimentos dos descontentes com as novas estruturas: a nobreza, que já caiu, e a pequena burguesia que ainda não subiu: de onde, as atitudes saudosistas ou reivindicatórias que pontuam todo o movimento"

Ainda na Europa, o final do século XVIII em Portugal ficou marcado pela fuga da família real. Em 1808 a corte embarcou em caravelas e migrou em massa para o Brasil, na altura uma colônia ultramarina, devido a conflitos comerciais com outras potências europeias.

O Romantismo em Portugal teve como marco inicial a publicação, em 1825, do poema "Camões", escrito por Almeida Garrett. No Brasil, a data chave foi a proclamação da Independência realizada em 1822. Foi a partir dela que se desenvolveu um ambiente próprio para desdobramentos no âmbito literário.

Frontispício da primeira edição de Camões, o poema foi um marco do Romantismo em Portugal.
Frontispício da primeira edição de Camões, de Almeida Garrett, o poema foi um marco do Romantismo em Portugal.

O Romantismo no Brasil

Principais características do Romantismo no Brasil

Nacionalismo

Tanto o romance colonial de Alencar quanto a poesia indianista de Gonçalves Dias pretendiam fundar um passado mítico para o Brasil. O objetivo maior era tentar construir uma narrativa para o país há tão pouco independente.

A escrita desse período deixa claro o sentimento de ufanismo e patriotismo.

Indianismo

A figura do índio prestou-se imediatamente a ocupar o papel de um herói nacional: bom, ingênuo, corajoso. Eis o cenário ideal para a reinvenção do mito do bom selvagem.

As obras românticas frequentemente também cultuavam a nossa natureza tropical. Os romances de José de Alencar são um exemplo desse forte traço romântico.

O amor impossível

Geralmente de raiz autobiográfica, a experiência dos românticos era egocêntrica e narrava a tristeza por terem se apaixonado por um amor irrealizável.

Subjetivismo e sentimentalismo exacerbado

Entre os românticos a escrita transbordava um idealismo e experiências vividas em casos de amores platônicos. A maior liberdade formal permitia que os poetas se expressassem sem grandes preocupações estéticas, deixando fluir o sentimento despertado pela amada.

Contexto histórico do Romantismo no Brasil

No Brasil, em 1822, era declarada a Independência e o início do reinado de D.Pedro I.

Três anos mais tarde foi a vez do Romantismo dar os seus primeiros passos no país, trazido por Gonçalves de Magalhães que havia bebido de influências francesas. Seu livro Suspiros poéticos e saudades, lançado em 1836, chegou a ser inclusive publicado na França.

Suspiros poéticos e saudades, lançado em 1936, foi o livro considerado marco inicial do Romantismo no Brasil.
Suspiros poéticos e saudades, lançado em 1936, foi o livro considerado marco inicial do Romantismo no Brasil.

No mesmo ano, Gonçalves de Magalhães funda em Paris, com os amigos Pôrto Alegre, Sales Tôrres Homem e Pereira da Silva, a revista Nitheroy.

Na publicação os autores promoviam de modo sistemático os ideais românticos (especialmente no que diz respeito ao nacionalismo) e também repudiavam o uso da mitologia pagã.

Retrato de Gonçalves de Magalhães, introdutor do Romantismo no Brasil.
Retrato de Gonçalves de Magalhães, introdutor do Romantismo no Brasil.

O Romantismo brasileiro encontra-se dividido em três fases, cada uma dela com contornos e características bastante distintas. Conheça abaixo os pormenores de cada geração.

As fases do Romantismo no Brasil

Primeira fase

A primeira fase do Romantismo brasileiro é profundamente marcada pelo Nacionalismo e pelo Indianismo. Os autores da altura redigiam com um tom ufanista, de quem louva a própria pátria.

Os ideais independentistas finalmente encontravam eco na literatura. O grande nome dessa geração foi Gonçalves Dias (1823-1864), que é considerado, por sinal, o nosso primeiro poeta romântico de peso.

Gonçalves Dias chegou a ser saudado pelo romântico português Alexandre Herculano, que provavelmente conheceu os versos de Dias no período em que esse esteve em Portugal.

Gonçalves Dias, um dos principais nomes da primeira fase do romantismo no Brasil.
Gonçalves Dias, um dos principais nomes da primeira fase do romantismo no Brasil.

Filho de um imigrante português com uma mestiça, Gonçalves Dias foi estudar Direito em Coimbra, onde teve contato com os ideais românticos pela primeira vez.

De volta ao Brasil, em 1845, o poeta espalhou o conhecimento que adquiriu na Europa influenciando toda uma geração de escritores. A lírica de Gonçalves Dias se debruçava nos grandes temas românticos como o amor, a natureza e Deus.

Outro grande nome desse período foi José de Alencar (1829-1877), que publicou clássicos da prosa nacionalista como O guarani e Iracema.

O escritor foi também político e tinha forte preocupação em consolidar uma literatura brasileira menos influenciada pelos colonizadores portugueses.

Segunda fase

A segunda fase do romantismo costuma ser chamada de geração ultrarromântica. Os ideais coletivos de construção de uma identidade nacional parecem ter sido deixados para trás para dar lugar a um período marcado por um intenso subjetivismo.

Há quem critique essa geração de escritores por compor poemas demasiado egocêntricos e soturnos, carregando uma abordagem pessimista e melancólica. O maior representante dessa geração foi Álvares de Azevedo (1831-1852).

Álvares de Azevedo, um expoente da segunda fase do romantismo brasileiro.
Álvares de Azevedo, um expoente da segunda fase do romantismo brasileiro.

Terceira fase

A terceira fase do romantismo brasileiro é conhecida como Geração Condoreira. O período foi caracterizado pela forte preocupação em construir uma identidade nacional distanciada da cultura do colonizador.

Essa geração fora movida por ideais libertários, especialmente influenciada pelo escritor francês Victor Hugo. Os escritores desejavam escapar do tom egocêntrico da geração anterior e olhavam para as questões sociais, discutindo temas coletivos pertinentes como o abolicionismo e o republicanismo.

O maior nome da terceira fase do romantismo foi Castro Alves (1847-1871).

Castro Alves, poeta de destaque da terceira fase do romantismo no Brasil.
Castro Alves, poeta de destaque da terceira fase do romantismo no Brasil.

O Romantismo vigorou no nosso país por cerca de quarenta e cinco anos, tendo como marco de encerramento a publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas (de Machado de Assis) e O Mulato (de Aloísio de Azevedo). Ambos foram lançados no ano de 1881.

Principais obras literárias

Romantismo europeu

  • Os Sofrimentos do Jovem Werther, de Goethe (Alemanha, 1774)
  • A História de Tom Joses, de Henry Fielding (Inglaterra, 1749)
  • Camões, poema de Almeida Garrett (Portugal, 1825)

Romantismo brasileiro

  • Suspiros poéticos e saudades, de Gonçalves de Magalhães (1836)
  • Iracema, de José de Alencar (1875)
  • O navio negreiro, de Castro Alves (1880)

Principais autores românticos

Na Europa

  • Goethe (Alemanha)
  • Almeida Garrett (Portugal)
  • Henry Fielding (Inglaterra)
  • Byron (França)
  • Alexandre Herculano (Portugal)

No Brasil

  • Gonçalves de Magalhães (Primeira geração)
  • Gonçalves Dias (Primeira geração)
  • José de Alencar (Primeira geração)
  • Álvares de Azevedo (Segunda geração)
  • Casimiro de Abreu (Segunda geração)
  • Castro Alves (Terceira geração)
  • Sousândrade (Terceira geração)

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Rebeca Fuks
Rebeca Fuks
Formada em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2010), mestre em Literatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2013) e doutora em Estudos de Cultura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e pela Universidade Católica Portuguesa de Lisboa (2018).