Livro Senhora de José de Alencar (resumo e análise completa)

Rebeca Fuks
Rebeca Fuks
Doutora em Estudos da Cultura
Tempo de leitura: 7 min.

Publicado pela primeira vez em 1875, o romance Senhora, de José de Alencar, pertence ao Romantismo. O livro é dividido em quatro partes - o preço, quitação, posse e resgate - e tem como tema central o casamento por interesse.

Resumo da obra

A protagonista Aurélia Camargo é filha de uma costureira pobre e deseja se casar com o namorado, Fernando Seixas. O rapaz, porém, troca Aurélia por Adelaide Amaral, uma menina rica que proporcionaria um futuro mais promissor.

O tempo passa e Aurélia torna-se órfã e recebe uma herança enorme do avô. Com a fortuna que adquire, a moça ascende socialmente e começa a ser vista com outros olhos, principiando a ser cobiçada por pretendentes interesseiros.

Ao saber que o antigo namorado ainda estava solteiro e em maus lençóis financeiros, Aurélia resolve se vingar do abandono sofrido e se propõe a comprá-lo. Os dois, por fim, casam-se.

Fernando atura as chacotas da mulher até que consegue trabalhar e reunir dinheiro suficiente para cobrir o que a moça empregara no casamento, comprando assim a sua "liberdade". Aurélia percebe a mudança de atitude de Fernando e o casal faz as pazes, consumando, por fim, o casamento.

O que torna o enredo tão interessante?

A grande reviravolta da obra se dá porque a personagem Aurélia é apresentada como uma moça meiga, apaixonada, dedicada e, após o abandono do namorado, torna-se fria e calculista.

Fernando, por sua vez, percorre o caminho ao avesso: começa a história como um interesseiro em busca de um bom casamento arranjado e termina o relato como um homem trabalhador que consegue a redenção.

José de Alencar demonstra em seu romance uma preocupação com a demasiada importância que a sociedade burguesa dá ao dinheiro. O autor sublinha de que forma o fator financeiro condena o destino das pessoas.

Em relação à narração, Senhora é narrado em terceira pessoa por um narrador observador. O romance é rico em detalhes cenográficos e descrições psicológicas dos personagens.

Contexto histórico

Vale lembrar o contexto histórico brasileiro em que foi publicado o romance: no século XIX o público letrado ainda se encontrava em processo de consolidação.

Era relativamente frequente também, na altura da publicação de Senhora, o casamento por interesse, no entanto, a protagonista Aurélia condena essa prática, sendo movida única e exclusivamente por amor, deixando claro que deseja se unir em matrimônio perpétuo com alguém por quem nutrice, de fato, afeto. O romance denuncia igualmente a sociedade de aparências.

Vejamos um trecho da discussão entre Aurélia e Fernando:

Mas a senhora deve saber que o casamento começou por ser a compra da mulher pelo homem; e ainda neste século se usava em Inglaterra, como símbolo do divórcio, levar a repudiada ao mercado e vendê-la ao martelo.

Corrente literária

Senhora é um romance que pertencente ao Romantismo Brasileiro.

Os livros produzidos durante este período possuem forte tendência ao nacionalismo. José de Alencar se inspirou em Ossian e Chateaubriand e adaptou os recursos aprendidos incluindo pinceladas de influência local. Alencar investiu igualmente em uma linguagem repleta de musicalidade. Tais recursos já haviam sido experimentados antes, O Guarani, romance publicado antes de Senhora, que teve grande sucesso de público.

Personagens

Aurélia

Aurélia Camargo é uma adolescente de dezoito anos, de origem humilde, filha de uma camareira. Independente e emancipada, a vida de Aurélia muda após o recebimento de uma inesperada herança do avô.

Fernando

Fernando Seixas é o namorado de Aurélia Camargo durante a juventude. Como a moça não possuía meios e bens, o rapaz, que era um alpinista social, decide trocá-la por Adelaide Amaral, uma jovem capaz de oferecer um futuro abastado.

Adelaide

Adelaide Amaral é uma moça milionária que acaba por noivar com Fernando Seixas. O rapaz abandona Aurélia para estar com Adelaide por motivos financeiros, no entanto rejeita Adelaide e volta para Aurélia quando a moça enriquece.

D. Firmina

D. Firmina Mascarenhas é uma parente idosa que ficou responsável por acompanhar Aurélia Camargo em suas aparições na sociedade.

Filme Senhora

O livro foi adaptado para o cinema em 1976 por Geraldo Vietri e tem no elenco Elaine Cristina (interpretando a protagonista Aurélia) e Paulo Figueiredo (interpretando Fernando Seixas).

Novela Senhora

A Rede Globo exibiu no horário das 18 horas o clássico de José de Alencar adaptado para a televisão. Quem fez a adaptação do romance foi Gilberto Braga e os capítulos foram ao ar entre 30 de junho de 1975 e 17 de outubro de 1975.

No total foram oitenta episódios dirigidos por Herval Rossano que tiveram como protagonistas Norma Blum (no papel de Aurélia Camargo) e Cláudio Marzo (no papel de Fernando Seixas).

Sobre o autor José de Alencar

José Martiniano de Alencar nasceu no dia 1 de maio de 1829 em um pequeno município chamado Messejana (atualmente o município pertence a Fortaleza). Mudou-se com a família para o Rio de Janeiro aos onze anos porque o pai desejava seguir carreira política.

O escritor, que se formou em Direito, vinha de um lar bastante abastado (o pai era senador liberal e o irmão diplomata). Além de se dedicar à ficção, José de Alencar atuou como político, orador, jornalista, crítico teatral e advogado.

Escreveu para vários jornais, entre eles o Correio Mercantil e o Jornal do Comércio. Em 1855, foi redator chefe do Diário do Rio de Janeiro.

Ocupou a cadeira número 23 da Academia Brasileira de Letras por escolha de Machado de Assis.

Na carreira política pertenceu ao Partido Conservador e foi eleito deputado geral pelo Ceará, além de ter sido Ministro da Justiça entre os anos de 1869 e 1870.

Publicou Senhora aos quarenta e seis anos, em 1875.

Faleceu no Rio de Janeiro relativamente jovem, com tuberculose, aos quarenta e oito anos, no dia 12 de dezembro de 1877.

Um pouco mais sobre a história de José de Alencar

O pai do escritor, o senador José Martiniano de Alencar, chegou a ser padre. Após abandonar o sacerdócio casou-se com a prima, Ana Josefina de Alencar, com quem teve filhos.

Os avós paternos de José de Alencar eram José Gonçalves dos Santos, um comerciante português, e Bárbara de Alencar, que foi consagrada heroína da revolução de 1817. Bárbara de Alencar e o filho foram presos na Bahia acusados de envolvimento na revolução, ficaram, no total, quatro anos em reclusão.

A carreira literária de José de Alencar

O escritor lançou seu primeiro trabalho literário em 1856. Depois a produção foi ganhando corpo e maturidade, é extensa a lista de trabalhos publicados por José de Alencar:

  • Cartas sobre a Confederação dos Tamoios (1856)
  • O Guarani (1857)
  • Cinco minutos (1857)
  • Verso e reverso (1857)
  • A noite de São João (1857)
  • O demônio familiar (1858)
  • A viuvinha (1860)
  • As asas de um anjo (1860)
  • Mãe (1862)
  • Lucíola (1862)
  • Os filhos de Tupã (1863)
  • Escabiosa (sensitiva) (1863)
  • Diva (1864)
  • Iracema (1865)
  • Cartas de Erasmo (1865)
  • As minas de prata (1865)
  • A expiação (1867)
  • O gaúcho (1870)
  • A pata da gazela (1870)
  • O tronco do ipê (1871)
  • Sonhos d’ouro (1872)
  • Til (1872)
  • O Garatuja (1873)
  • A alma de Lázaro (1873)
  • Alfarrábios (1873)
  • A Guerra dos Mascates (1873)
  • Voto de graças (1873)
  • O ermitão da Glória (1873)
  • Como e por que sou romancista (1873)
  • Ao correr da pena (1874)
  • O nosso cancioneiro (1874)
  • Ubirajara (1874)
  • Senhora (1875)
  • Encarnação (1893)
  • Obra completa, Rio de Janeiro: Ed. Aguilar (1959)

Leia Senhora na íntegra

Ficou curioso para conhecer um dos maiores clássicos da literatura brasileira? A obra Senhora está disponível para leitura na íntegra.

Saiba mais

Quem quiser conhecer mais sobre as convicções políticas e estéticas do José de Alencar pode ler Como e porque sou romancista, ensaio publicado pelo autor que se encontra em domínio público.

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Rebeca Fuks
Rebeca Fuks
Formada em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2010), mestre em Literatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2013) e doutora em Estudos de Cultura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e pela Universidade Católica Portuguesa de Lisboa (2018).