Arte medieval: a pintura e a arquitetura da Idade Média explicadas
A arte medieval foi toda a produção artística criada entre o século V e o século XV. Dessa fase se destacam pinturas, tapeçarias e iluminuras para além de construções arquitetônicas e composições musicais.
A arte medieval foi uma arte basicamente religiosa, cristã. A Igreja Católica teve fundamental importância durante essa época não só em termos sociais como também como principal impulsionador artístico.
Os dois estilos mais importantes do período medieval foram a arte românica e a arte gótica.
O período medieval se iniciou com a desintegração do Império Romano do Ocidente (século V) e se encerrou com o Fim do Império Romano do Oriente, com a queda de Constantinopla (século XV). Os estudiosos costumam dividir os períodos da era medieval em Alta Idade Média (entre o século V e X) e Baixa Idade Média (entre o século XI e o XV).
Durante esse período as criações tinham um caráter majoritariamente religioso. As criações artísticas, marcadas pela espiritualidade e pelo conservadorismo, eram praticamente todas patrocinadas pela Igreja - essa prática ficou conhecida como mecenato papal.
A Igreja Católica tinha um papel social importantíssimo no contexto medieval: por um lado era uma entidade agregadora (que regia a vida comunitária) e por outro controlava todo o tipo de produção artística.
Durante a era medieval, dois estilos artísticos se destacaram: o românico e o gótico.
Arte Românica
A arte românica foi produzida durante a Alta Idade Média, mais precisamente entre os séculos XI e XIII, tendo sido a sucessora da arte bizantina. Como o próprio nome aponta, o estilo tinha influência romana.
Esse estilo era basicamente de cunho religioso e procurava ilustrar cenas bíblicas. Nesse contexto, Jesus era sempre representado de forma mais ampla, com dimensões maiores, sublinhando o seu protagonismo.
A arte românica passou a conter deformação e colorido feito a partir de cores chapadas. Nesse momento da pintura ainda não existia uma preocupação com a sombra ou com os jogos de luz.
Um dado curioso é que as criações dessa época não eram assinadas habitualmente, não havia uma preocupação tão forte em relação à autoria.
Na arte românica também não existia um forte desejo de imitar a natureza ou de produzir obras que fossem propriamente realistas, exatamente a imagem perfeita do homem.
Os temas centrais da pintura românica eram as cenas bíblicas, as passagens da vida de Jesus Cristo, de Maria e dos Santos e Apóstolos.
Arquitetura românica
As edificações românicas investiam em linhas horizontais (não muito altas). Eram construções grandes, embora divididas em setores, espaços menores, com interiores praticamente não adornados e uma única porta principal.
Os prédios usavam paredes espessas e maciças com poucas aberturas que serviam de janela. Devido ao peso das paredes, as construções, sólidas, não eram muito elevadas.
Os tetos eram frequentemente estruturas de madeira e as paredes precisavam ser fortes o suficiente para sustentarem o peso da edificação. As igrejas robustas tinham habitualmente plantas em formato de cruz.
Era comum nesse tipo de construção a presença de abóbadas e arcos horizontais que formavam 180 graus. De modo geral, podemos afirmar que a arquitetura românica tinha um estilo mais sombrio e com traços mais simples.
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Arte gótica
Em meados do século XII começou a se desenvolver a arte gótica - a pintura surgiu em 1200, praticamente meio século depois da arquitetura gótica. O ápice desse estilo aconteceu entre 1300 e 1500.
O termo gótico foi consagrado por Giorgio Vasari, na Itália, em pleno século XVI e tinha inicialmente um tom pejorativo. O termo viria de Godos, uma referência ao povo que destruiu Roma em 410.
O estilo, ainda muito marcado pela influência cristã, pode ser visto não só em pinturas, esculturas, vitrais como também na arquitetura.
Esse gênero de pintura representou uma evolução importante ao passar a ilustrar não apenas cenas bíblicas, de modo frio, como também a retratar a vida da burguesia e transmitir alguma emoção. O realismo começou a ser uma preocupação dos artistas dessa geração.
Os personagens escolhidos para figurarem nas peças frequentemente olhavam para o céu e estavam sempre muito vestidos. Em relação às cores utilizadas, havia uma preferência pelas tonalidades claras. Alguns tons ficaram estigmatizados: o azul era sempre dedicado a mãe de Jesus e o marrom a São João Batista.
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Arquitetura gótica
A arquitetura gótica se consagrou pela sua verticalidade e pela harmonia. Com grandes torres (muitas com sinos) e pontas agulhadas, as construções pareciam que pretendiam alcançar o céu.
Essa estética deu também bastante atenção à decoração interna e externa. Essa característica pode ser observada, por exemplo, pela profusão de rosáceas decorativas, arcos e abóbadas em cruzaria.
As inovações no processo de construção deixaram as paredes mais leves (finas) e os edifícios, mais altos, possibilitaram a colocação de vitrais, muitos coloridos, que permitiam a entrada de luz na igreja.
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Características da arte medieval
O rotulo "arte medieval" compreende produções de um período de cerca de mil anos. Por se tratar de um período tão amplo as peças foram ganhando contornos bastante diferentes. De toda forma, alguns elementos aparecem comuns.
Obras com cunho didático
O ideal do artista medieval era transmitir a sua mensagem da forma mais clara, didática e precisa possível uma vez que grande parte da sociedade era analfabeta.
A arte estava, portanto, a serviço da religião, especialmente para ilustrar cenas cristãs.
Nas criações medievais havia, via de regra, uma preocupação didática - através das artes a igreja Católica pretendia transmitir para o público iletrado as histórias bíblicas.
"Durante a Idade Média europeia, o número de pessoas alfabetizadas era muito pequeno e por este motivo a Igreja Católica usava imagens como recurso para a sua doutrinação."
Emília Moura, A educação do olhar, O Estado de São Paulo, 5 de março de 2000
Peças de forte cariz religioso
Financiada pela Igreja ou por membros dela (bispos, padres), ou ainda por burgueses seculares abastados, não havia praticamente nenhuma arte fora do contexto religioso - de modo geral os artistas trabalhavam para a igreja.
Convém sublinhar que o período medieval foi profundamente marcado pela inquisição. Havia entre as pessoas o medo da censura e do santo ofício que condenava hereges, bruxas e pessoas que não compactuavam com a fé católica.
Criações com pouca variação temática
Muitas dessas obras eram carregadas de simbologia e transpareciam um fascínio com o sobrenatural. Era uma estética que frequentemente representava criaturas monstruosas, híbridas (entre o homem e o animal).
O inferno, no contexto das artes, estava ligado ao erotismo e a nudez era associada a sexualidade e ao pecado, a algo condenável.
Uma arte feita por homens e para os homens
As pinturas medievais retratavam basicamente seres do sexo masculino: era uma arte feita pelos homens e para os homens.
Na Idade Média a mulher era representada quase de modo coadjuvante no mundo das artes, um reflexo da sociedade. Inicialmente elas eram pintadas a partir da metáfora da pecadora (simbolizada por Eva), posteriormente se tornaram ligadas ao claustro (a imagem de Maria, mãe de Jesus) ou como guerreiras (a exemplo de Joana D'Arc).
Principais diferenças entre pintura medieval e a renascentista
A maior diferença entre a arte medieval e a renascentista está em termos temáticos. Enquanto na idade das trevas as representações eram voltadas para temas religiosos, na pintura renascentista - apesar de ainda haver muita representação cristã - começaram a despontar trabalhos voltados para a vida do homem.
Na arte renascentista surgem cada vez mais retratos e cenas familiares ou do cotidiano da camada mais abastada da sociedade. Essa mudança substancial pode ser facilmente explicada visto que, durante as duas fases, houve uma transição do teocentrismo para o antropocentrismo. O foco dos artistas gradualmente passou a ser a vida dos homens.
A prática do mecenato também ganhou contornos diferentes em ambos os períodos. Se durante a era medieval vigorou um mecenato papal, onde era basicamente a igreja que financiava os artistas, no renascimento o mecenato passou a ser praticado pelos burgueses, que faziam encomendas para as suas propriedades ou para instituições religiosas que apadrinhavam.